O mais organico desejo

não ignorar o desejo que percorre cada veia, cada capilar.
o mais humilde desejo - de uma maçã, de um sorriso.
não amortalhar o que há de vida - o pouco que há de vida.
não esconder, disfarçar, brecar
isso que há de mais proprio.
essa sede, esse seio.
esse orgânico desejo.

He smokes an sighs and suffers in silence

Amar e malamar

Acordado por um pesadelo, levantou e acendeu seu cigarro.
O Sol ainda era apenas uma ameaça no horizonte.
Deu o primeiro trago... suspirou.
Como tudo é cruel, e baixo e ridiculo - pensou.
Como ele mesmo era cruel, e baixo e ridiculo.

No entanto, a vida se seguia a portas fechadas.
Quanta ironia, Meu Deus. Quanta...

no começo eram as insônias, os sorrisos, os medos... tantos medos

então...
as noites de sono, de braços, de segurança

depois do fim
novas insônias, novos sorrisos, novos medos - outros braços? outra segurança?

Como pode as coisas mudarem tanto em tão pouco tempo?
Num dia admiração, no outro pena.
Num dia intimidade, no outro estranheza.
Num dia silêncio, no outro alegria.
Num dia alegria, no outro o fundo do poço.

Meu Deus, quanta coisa muda. Muda, e re-muda, des-muda de novo.

Tornar-me imortal e, depois, morrer.

"há homens que se cansam depressa de namorar,
outros que são infiéis à namorada.
pobre de quem não aprendeu direito,
ai de quem nunca estará maduro para aprender,
triste de quem não merecia, não merece namorar."
Carlos Drummond de Andrade